sexta-feira, 17 de junho de 2005

Tinta

ao lobo audaz

Por entre brumas,
Esquecer...
A linearidade de todos os caminhos.
Sonhei que vinhas.
Estava acordada
Por baixo da pele,
Acordada
Por baixo de qualquer mascara latente...

Oculto-me dentro da pele que não sou.
Fechar na mão uma vez mais
Esse reconhecer incerto,
A misteriosa vacuidade
Onde sempre revejo a sombra antiga.
O corpo por baixo da pele
É feito de mar e maresia,
Da insubstancia das flores flutuantes,
Da noite encrepusculecida,
A serenidade tranquila de todas as tempestades
E o calar de segredos obscuros,
Murmurios que o tempo não apagará.

Amordaço
No meu corpo
O corpo teu, de quimera.
A pele translucida
Que usas sobre a pele lucida.
Nevoeiro dos meus sonhos,
Penumbra das minhas ilusões abandonadas...
Vem, fazer da noite
Uma suprema eternidade, e da Lua
Um astro estelar, fulminante, que
Encadeie
Até à ausência do tempo.
Luz apenas...

Percorreremos, então,
Os becos e vielas dos corpos
Soltos nas amarras,
Possuidos, no uivo incessante da noite
Acolhedora.
Deixa-te ficar
Na ausencia dos silencios funebres,
Na incapacidade do jogo da tristeza.
Vaga tristeza,
Quando o corpo
Em queda languida
Se abate na lentidão da alma,
No suspiro indefinido
Sem saber acabar...
De mãos na pele

Pequena fronteira que o toque desfaz
Juntos, os dedos
Recuperam a noite,
Reclamam para o corpo unico
As estrelas dos amantes...
Ainda há constelações no céu.
Um murmurio
Roçando a sombra da pele e da carne...
Deixa que olhe,
De olhos fechados ao que rodeia,
Por baixo da pele
Fimbria fronteira,
Quem somos, quem aparentamos...

Debaixo da carne,
Estrutura,
Esqueleto ensurdecedor
Do grito voraz
Pela poeira inolvidavel do mundo.
Deixa que recuse a vida, que
Recupere depois a vida
Um novo mar intranquilo, revolto e
Quente,
Mar de retorno...
Deixa que morra sempre, nos teus abraços
E nos braços
Renascer...

Suave e lenta parte de parte
Eu deixo-te
Crescer por dentro de mim,
Intranquilo delirio,
Apertando-te o corpo em revolução
Nesta miragem...
Que espreite entre os dedos
Cobrindo de memoria o rosto...
Deixa em memoria
A ousadia desta doce loucura,
Penetrar-te o corpo, profana,
Libertar-te apenas quando fosse dia
Nesta noite construida sem tempo...

E ao acordar
Ficarás como brisa nocturna
Aquecendo a nudez dos corpos gastos
Quebrados,
Olhares de indefinidas conversas
Na utopia do tempo, uivante
Ser
Na liberdade traçada a pincel
Com tinta de ilusão.


by Ar, 28 de Maio, 05

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